Crítica. ‘Barbie’, a boneca de plástico feminista

 

Fotografia: IMDb

Barbie chegou, finalmente, às salas de cinema. Após uma campanha de marketing intensa, o terceiro filme realizado a solo por Greta Gerwig junta um elenco de luxo: Margot Robbie (Barbie) e Ryan Gosling (Ken) roubam a cena com interpretações icónicas e inesquecíveis. A narrativa, recheada de drama, comédia e sátira social é conduzida por uma meta-línguagem responsável por cativar a audiência intergeracional do início ao fim.

Este não é apenas um filme de homenagem à boneca que dá vida aos cenários imaginários dos mais novos. A longa-metragem de Greta Gerwig explora o impacto cultural e social da boneca de plástico: tudo aquilo que teve, tem e terá de bom e de mau. Os paradoxos abordados vão desde a figura da mulher adulta independente até à representação irrealista e idealizada do corpo humano. Temáticas como o crescimento, a relação entre pais e filhos, o consumismo da sociedade capitalista e a igualdade de género também fazem parte do guião.

O texto que se segue contém spoilers de 'Barbie'.

Em Barbieland, Barbie é a personagem principal – quer seja a sua versão estereotípica, professora, engenheira, presidente, médica, cantora, famosa ou sereia. Neste universo não existem quaisquer preocupações: todos os dias são recheados da alegria, festas, música e dança. Ken só existe em dependência da boneca de plástico mais famosa do mundo, contribuindo para satisfazer todos os seus desejos.

Fotografia: IMDb

As coisas começam a mudar quando a personagem de Margot Robbie é invadida por questões existenciais, começando a experienciar sentimentos fora do comum. Com a ajuda de Weird Barbie (Kate McKinnon), a protagonista descobre a existência de uma entropia entre o universo de ficção e o mundo real. Para restabelecer a ordem, Barbie deve viajar até ao universo dos humanos, encontrar a sua portadora e resolver o seu problema. Ken, por sua vez, decide acompanhar a sua mais que tudo, sem aviso prévio. Assim tem início a jornada heroica.

No mundo real, a dupla de bonecos de plástico descobre que o impacto de Barbie não reflete o universo de Barbieland. Pelo contrário, o conceito de patriarcado ganha forma e Ken descobre que, afinal, ele pode ser mais que “só o Ken”. Enquanto Barbie é perseguida pelo CEO (Will Ferrell) da organização Mattel (criadora da Barbie), Ken regressa ao mundo da fantasia e estabelece um novo regime – Kendom, onde os papéis se invertem: as Barbie sofrem uma lavagem-cerebral e passam a servir os bonecos masculinos.

Fotografia: IMDb

A narrativa de Greta Gerwig destaca-se por revelar e sublinhar o impacto da sociedade patriarcal e machista na figura da mulher e do homem. Enquanto Barbie percebe que a sua aparência física não é o que realmente importa, Ken sente a pressão da masculinidade tóxica e transforma o seu caráter. A longa-metragem atinge o seu ponto de viragem durante o monólogo de Gloria (America Ferrera), que apresenta as dificuldades sentidas pelas mulheres na sociedade machista. É desta forma que Barbie é apresentada ao conceito de feminismo, que defende a igualdade de géneros: “You are so beautiful and so smart and it kills me that you don’t think you’re good enough.”

No seu todo, Barbie de Greta Gerwig expande a longevidade da boneca de plástico: dos mais jovens aos mais adultos, esta é uma narrativa universal e inolvidável que se relaciona com diferentes gerações, reforçando o impacto e a originalidade das ideias humanas na sociedade: “Humans only have one ending. Ideas live forever.”